Era uma noite bem calma, tudo estava exatamente como deveria. Em um segundo tudo mudou. Jasmim só via em sua frente uma luz ofuscante, chegando cada vez mais perto, cada vez mais intensa.
- O que é isso?
Ela estava assustada, seu coração quase pulava pela boca. Nem poderia imaginar que a sua vida acabaria mudando por completo, nunca passaria a ser aquilo o que ela era antes de tudo o que estava por acontecer, de tudo o que ela nem pensava. Sua única visão do futuro era a de que se não pulasse daquele banco de praça, o carro que vinha em alta velocidade na sua direção iria acertá-la em cheio.
Foi uma questão de segundos. O carro atravessou todo o pequeno parque, parando somente quando entrou em contato direto com um poste. Foi um terrível acidente. Mesmo tendo se arranhado bastante, ela correu para ver se podia ajudar as pessoas que deveriam estar no carro.
Ela sentiu uma dor aguda no braço, mas mesmo assim se levantou, e correu para o carro. Ela percebeu que saia fumaça e gasolina do carro e por isso correu o máximo que pôde. Ao se aproximar ela viu que havia somente uma pessoa no carro, e por sinal, estava muito ensanguentado. Ela abriu a porta do carro e usou todas as suas forças para retirar o rapaz que estava inconsciente, debruçado sobre o volante do Cross Fox, que estava completamente acabado e com grande risco de explosão.
Ela o arrastou para o mais longe que pôde, mas com grande dificuldade, pois ele era pesado, então o carro explodiu, atirando-os alguns centímetros à frente. Tudo se passou em um curto espaço de tempo. A essa altura algumas pessoas corriam para ajudar, ela pediu para dois rapazes levarem-no para o carro dela que não estava longe, para que fossem ao hospital.
O rapaz ainda estava inconsciente, o que era um problema. Ela não entendia de medicina, mas sabia que isso não era nada bom. Não correu com o carro, pois não queria mais um acidente. Mas fez o máximo que pôde para chegar ao hospital antes algo ruim acontecesse. Para sua sorte as ruas estavam pouco movimentadas, e não havia muito trânsito.
Ao chegar ao hospital, tudo foi muito rápido, ela explicou a situação e disse que não o conhecia. Ela esperou até ter notícias.
- Enfermeira?! Poderia me dizer se já há alguma informação do estado do rapaz que bateu o carro, que eu trouxe.
- Não senhorita. Ainda não temos nenhuma informação. Mas assim que tivermos a informaremos.
Duas horas se passaram e um médico veio falar com ela.
- Senhorita Jasmim Torres?
- Sim.
- O rapaz já está em estado instável. Se quiser já pode vê-lo. No entanto, precisamos fazer uma transfusão de sangue imediatamente. Vai demorar muito para procurar em outros hospitais e se você contatar um parente vai ser bem melhor para o paciente.
- Mas eu nem mesmo o conheço.
- Bem encontramos uma carteira no bolso dele, então vamos colocar o caso nas mãos da polícia. Aqui está a carteira, parece que ele é filho deste senhor Mendonça, não o conhece? Olhe a foto, pode ser algum conhecido.
- Bem, essa fisionomia... Espere, eu conheço esse homem. Ele mora algumas ruas após a minha rua, inclusive foi o meu professor de Literatura.
E pra quem acredita em coincidências, essa foi uma incrível. E mesmo exausta ele foi imediatamente contatar o senhor Jorge Mendonça. Ela se lembrava que ele era um bom professor, mas sempre era bem fechado com relação a sua vida fora da escola.
Não sabia o porquê de estar ajudando, mas continuou fazendo o que achava certo. E como esperado, ela encontrou com o pai do rapaz que agora tinha um nome, graças ao Dr. Murilo, se chamava Daniel Mendonça. Jorge ficou extremamente assustado com a visita dessa moça tão tarde, abriu a porta desconfiadamente e a olhou com ar de interrogação. Ela não sabia por onde começar, então foi logo se apresentando, não sabia se ele ainda se recordava dela. Ele disse que sabia muito bem quem era a pessoa que estava em sua frente, e sem mais delongas perguntou o motivo de ter batido em sua porta tão tarde.
Não restou opção alguma, ela teria que falar de uma vez. E quando falou o que tinha ocorrido, quase viu o homem a sua frente desmaiar. Depois de algum tempo ela o levou ao hospital, e então foi embora para casa, ela morava sozinha, portanto não havia necessidade de correr. Ela estava exausta, seu corpo todo dolorido, a enfermeira havia lhe dado alguns analgésicos, e ao chegar a sua casa iria tomar um banho, comer algo, tomar alguns comprimidos, e dormir. Sorte que o dia seguinte era sábado.
O final de semana terminou e a vida voltou ao normal, foi trabalhar, saiu com as amigas e os colegas de trabalho. Viajou à negócios, e resolveu muitos problemas que haviam sido adiados. Era tarde e ela finalizava alguns relatórios da redação. Enfim teria férias, iria ficar na cidade mesmo. Não queria viajar, e além do mais, não havia ninguém que ela pudesse visitar. Depois que seus pais morreram, não sobrou muitos parentes, com exceção de uma prima chata.
Finalmente poderia desligar o despertador, mas não iria adiantar em nada, sempre tivera o hábito de acordar sedo. Fez uma faxina na casa, cozinhou algumas guloseimas, fez o almoço, e depois lavou a louça. Quando estava assistindo televisão, vestida em uma calça Jens e camiseta branca, ouviu alguém bater à porta. Foi atender, e para a sua surpresa se deparou com o Senhor Jorge Mendonça, e atrás dele o rapaz que ela tinha salvado, Daniel. Ele não parecia ser tão bonito, tão encantador, ele somente era perfeito...
- Não irá nos convidar para entrar?- Perguntou o senhor Jorge em tom extrovertido.
-Me desculpem. Claro. Entrem, e sintam-se a vontade.
-Eu sei pela sua expressão que não está entendendo o porquê de estarmos aqui.
Pela primeira vez estava ouvindo a voz daquele homem, era linda, de um charme natural.
- Eu vim aqui para lhe agradecer por ter salvado a minha vida, saiba que lhe sou eternamente grato.
- Não precisa agradecer.
- Precisa sim. Você salvou o meu filho de uma morte certa, e se arriscou por alguém que nem conhecia. Não é algo tolo.
-Por isso eu gostaria de saber se tem algo que eu possa fazer para agradecer, para lhe compensar.
- Não há nada. A única coisa que você pode fazer é ter mais cuidado quando for dirigir.
- Quanto a isso, acho que você ficou com uma má impressão de mim, eu só sofri esse acidente porque meu carro perdeu o freio. E devido a isso não pude controlá-lo. Não foi por inconsequêcia.
- Eu entendo.
- Bem meus jovens, eu tenho que resolver alguns assuntos por isso não poderei ficar e conversar. Mas saiba que lhe agradeço de todo o meu coração.
- não precisa...
- Não tenha modéstia. Espero vê-la em breve. Melhor, por que você não vai jantar em nossa casa qualquer dia desses? Só assim poderemos conversar. Sabendo que não há nada que pague o que você fez. Até logo! E eu não aceito não como resposta. - Disse Jorge.
- Tudo bem então.
- Filho vai ficar?
- Mais um pouco. Até mais tarde.
Ela estremeceu quando ouviu essas palavras, não sabia se ficava alegre ou se ficava ainda mais sem graça. Ele mexeu com ela. Foi uma atração incrível.
- Acho que não me apresentei. Sou Daniel.
- Prazer. Jasmim.
- Bonito nome. Então Jasmim, que tal darmos uma volta, eu nem sei como lhe agradecer, mas quero ser seu amigo, e quem sabe um dia lhe retribuir. Por favor, não recuse meu convite.
-Quando?
- Agora! Pensei em te levar para aproveitar o restante do dia. Conheço muitos lugares. Vá se arrumar, não demore muito, para não perdermos tempo.
- Claro. Quer alguma coisa, para esperar?
- Não é necessário.
- É sim, vou deixar a televisão ligada, e irei trazer algumas coisas pra você comer e beber.
- Acho que você não irá me deixar recusar.
- já está começando a me conhecer. - Ela sorriu.
Depois de trazer algumas fatias de bolo e refrigerante, já que ele não bebia, ela começou a se arrumar. Colocou um vestido de primavera, com sandálias baixas; notou que ele estava vestido com uma camisa pólo e uma calça de tecido e por isso soube que tinha que se vestir sem muitos caprichos.
Eles saíram, foram no carro dele. Primeiro a levou em um belo parque, com um lago cheio de patos. Depois passaram em uma sorveteria, andaram pelos pontos turísticos da cidade, jantaram em um pequeno restaurante com ar italiano. A noite foram dançar, e conversaram muito. Descobriram muitas coisas em comum. Após o longo dia, ele a deixou em casa.
- Obrigada! Foi tudo muito bom.
- Não agradeça, eu é quem tenho que fazer isso. Não só por salvar a minha vida, mas também pela ótima companhia.
O tempo foi passando e durante um mês e frequentaram a casa um do outro. A relação foi ficando cada vez mais intima, e eles começaram a sentir um algo mais, um sentimento muito maior que gratidão ou mesmo amizade. Então em uma noite, depois de terem saído, quando voltavam para casa, um certo clima foi se formando e um beijo aconteceu.
- Jasmim, eu não consigo mais esconder meus sentimentos, eu não posso mais dizer que eu somente lhe sou grato e somente quero sua amizade. Eu não sei como falar isso, eu somente sei que ensaiei várias vezes esse momento mais nada esta fluindo tão bem como eu imaginava. A verdade é que eu me apaixonei por você. Sei que posso não ser correspondido, mas eu vou tentar com todas as minhas forças.
Lágrimas surgiam nos olhos de ambos, enquanto Daniel estava apreensivo com a resposta de Jasmim, ela não acreditava que ele sentia o mesmo que ela.
- Eu... A verdade é que eu comecei a te amar desde que você bateu na minha porta pela primeira vez. Mas eu nunca imaginei que você se apaixonaria por mim, eu nunca me iludi. Eu estava esperando que minhas férias acabassem e esse sonho acabasse junto com ela.
- Por que você achou que eu nunca poderia me apaixonar por você? Eu amei esse seu jeito bondoso, esse seu carisma, suas caretas, seus sorrisos, o modo como você fala e o modo como age. Quanto mais tempo eu passava com você mais eu tinha a certeza que você era a mulher da minha vida. Cheguei a temer que você tivesse alguma má impressão sobre mim. Eu te amei a partir do momento que soube do seu esforço em salvar alguém que nem ao menos conhecia que provavelmente seria um irresponsável, que não media os seus atos. Mas ao contrário do que muitos fariam você se arriscou, não pensou duas vezes antes de fazer o que achava certo, e não quis nenhuma glória por isso. Certas coisas mostram o real caráter das pessoas. Mas não só por isso, quando você me contou mais sobre sua vida, quando me ouviu e quando ficou tanto tempo comigo, eu realmente percebi quais eram os reais sentimentos. E é simples, EU AMO VOCÊ!
- Eu nem sei o que o que dizer, isso era tudo o que eu queria ouvir, talvez eu esteja sonhando mais uma vez.
- Eu vou fazer com que você acredite que isso é a realidade.
Ele a beijou e ficaram juntos, construíram uma vida feliz, tiveram filhos, se amaram pelo reto da vida.
O que essa história mostra é que não se deve levar pelas aparências, não se deve negar ajuda a alguém, mesmo que não conheça essa pessoa, no futuro ela poderá ou não ser muito importante em sua vida. Os valores que as pessoas têm ou deveriam ter, estão sendo esquecidos, deixados de lado. Mas as pessoas se esquecem que o que define uma pessoa são os seus valores, suas atitudes, as formas que se trata um semelhante, o modo de ver o mundo.
Quem nega ajuda a alguém está simplesmente renegando a si mesmo como pessoa, e será bem pior do que aqueles a quem vê como errados e sem escrúpulos.
ALUNO: ELTHON SÁ
ÁREA: INFORMÁTICA TARDE
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